Cabeça de urubu enterrada

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A escola onde trabalho nunca foi das mais interessantes, talvez pela clientela, que é de super-hiper-baixo nível social; Muitos inclusive passam fome, só se alimentam quando chegam lá. Devido a isso e ao pouco pulso da Direção, o negócio mais parece uma casa da mãe Joana, barracos se formam com incrível facilidade tanto por parte de alunos quanto por parte de pais.

Ano passado pintou uma mãe muito estranha, se dizendo membro de um grupo que verifica em que condições estão as escolas. Ela bateu de frente com a Diretora, e aí o bicho pegou. A tal mulé colocou na cabeça de criar todo tipo de inferno pra jogá-la pras cobras, e começou até a inventar que alunos estavam sendo espancados, alunas estupradas e horrores mil. O povaréu baixava na porta pra saber se era verdade, a mulé invadia a escola juntamente com outras mães pra discutir e até rede de TV baixou lá pra saber dos escândalos. Foi um pandemônio.

Até que no fim do ano a Diretora foi exonerada por causa de Prestações de Contas mal explicadas, Notas Fiscais frias e cositas mais. O pessoal que fazia parte do Colegiado ficou de cabelo em pé, desesperado de medo de ser indiciado e processado por ter assinado cheques referentes a compras forjadas. Coitadas, faziam tudo que a chefe mandava até de olhos fechados, afinal, manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Do nada e por nada colocaram outra superiora, totalmente desconhecida tanto dos funcionários quanto da comunidade. Ela começou botando a maior banca, se dizendo a tal e falando que iria colocar ordem na casa. Começou bem, forçando os alunos a usarem uniforme, a chegaram dentro do horário (já pensou uma escola onde tem que se forçar a barra até nisso? Imaginem quanto ao resto…), introduzindo a carteirinha e etc. Já de princípio deu a maior confusão, teve até pai fazendo abaixo assinado pra tirá-la porque não tinha como o filho chegar mais cedo na escola, que não tinha dinheiro pra comprar uniforme, enfim, pra toda exigência com intuito de melhorar e impor ordem a cambada dava do contra. Mas até que ela peitou e por um tempo foi conseguindo segurar.

Porém, rapidamente voltou a afrouxar as rédeas, achando que já estava tudo sob controle. Ledo engano. Aos poucos as coisas foram voltando ao estado anterior, e a baderna está instalada novamente.

O resultado da nossa Avaliação da Educação Básica foi tão ruim, mas tão ruim, que a Secretaria de Educação teve que criar um Plano de Intervenção, qual seja, um Plano de Aulas específico, como se fosse uma aula de reforço diária, pra poder praticamente alfabetizar um bocado de meninos que estão na 5ª Série e mal sabem ler, ensiná-los a raciocinar, interpretar textos,fazer contas, ou seja, aprender o básico do básico né? Que sem isso pode esquecer. Pra coordenar esse projeto, foi enviada uma mulé  que já chegou arrepiando e dando sentadas diárias nos professores e no pessoal do Pedagógico. Não sei o motivo, mas esse pessoal que vem da Secretaria tem o “ótimo” costume de ser duma grossura incrível. Só nesses primeiros dias já vi gente ou saindo aos prantos após uma primeira conversa ou então batendo boca pesado.

Pra azedar tudo: a Diretora atual não conseguiu organizar a bagunça das prestações de conta referentes à gestão anterior, e por causa disso foram simplesmente bloqueadas todas as contas bancárias de verbas. Não há dinheiro pra absolutamente nada: falta papel, falta tinta pra impressora, falta alimentação dos alunos, falta durex, stêncil, cola, caneta, o telefone está cortado, enfim, falta tudo! Agora estamos tendo que pagar pelo nosso papel higiênico e pelo nosso cafezinho. A internet ainda está sobrevivendo aos trancos e barrancos porque é paga pelo Governo diretamente à empresa prestadora de serviços por causa dos emails que a Superintendência envia direto pra todas as escolas, mas acho que se bobear daqui a pouco vai pro saco também. Agora eu só queria saber uma coisa: o quê que os alunos têm a ver com isso se há má administração financeira, ainda mais de uma criatura que nem está mais lá?????

Fora a fofocaiada, que eu nunca vi lugarzinho lascado pra dar conversa fiada, e a comunicação é super truncada. Todo mundo tenta tirar o corpo fora, um joga a culpa dos erros no outro, um saco. Agora a danada da chefa parece que tá meio abilolada de tanto problema e acúmulo de serviço e o que acontece: esquece tudo o que lhe foi dito ou informado, e na hora em que sua superiora lhe questiona ela afirma, jura de pés juntos que não foi avisada de nada, que não sabia de nada!!!! Pelamordedeus!!!!!

Agora me digam, tem ou não tem uma cabeça de urubu enterrada nesse lugar? Só pode!! rsrsrs.

Uma resposta »

  1. Uma hora dessas eu tenho que te apresentar pra minha mãe. Ela tem 25 anos no sistema público do DF e já viu cada coisa…
    Agora me fala, como é que a gente sai do buraco?
    Beijo, boa semana!

  2. Flá, deve ser f*da para vc ver tudo isso e não poderfazer nada,né??? Eu imagino… Enquanto essa zona geral continuar, acho que vi ser difícil acharem onde está a cabeça de urubu, viu ???? beijos, uma ótima semana!!!

  3. Nossa Flá, que horrível tudo isso que vc escreveu, coitado dos alunos e coitada de vc, tendo que vonviver com tudo isso.
    Se serve de consolo, aqui nem é nada público, é até um multinacional e é tudo “quase” igual aí.
    Beijos,

  4. Bah que droga né Flá, depois tem um monte de gente dizendo que ser funcionário público é a oitava maravilha do mundo, espero que melhore a situação porque nem funcionários nem alunos tem culpa das burradas da direção né ?
    Bjkas

  5. Flávia, este é um caso para a minha ultra e super ex coordenadora Rosane, ou a Super Rosane. Acho que, acho não, tenho certeza, ela daria um jeito nisso. Trabalhei numa escola, que tinha organização para tudo. Tudo bem, era particular, mas para esta coordenadora seria tanto faz. Confesso que parecia um quartel general(até os centavos eram prestados contas, eh,eh, legal!), mas dava certo e tudo era bem organizado. Nossa, você não imagina como aprendi ali. Sempre fui uma profissional disciplinada, mas ali, tormei-me ao quadrado.
    Menina, do jeito que a coisa esta tão doida, eu no seu lugar me elegia diretora e tentava colocar ordem, rs…
    Fiquei muito chocada com a situação. O que será dessas crianças??? Já vi gente na faculdade, que não sabia o que era parágrafo, usar acentos, nem o basicão mesmo. Ai, meu Deus!!!!
    Um beijão querida amiga!

  6. Ai Flávia… Não consegui me adaptar ao estilo do worpress… E voltei pro zip… Ativei a conta e mudei a senha… Vou tentar lá de novo… Espero te ver por lá, tá???
    Beijos e valeu…

  7. Flá, que triste tudo isso. Pras crianças, pra quem trabalha aí e pro País, né? É a ignorância do país no sentido mais amplo da palavra. Espero que as coisas se ajeitem por aí!
    bjs!

  8. Flavia, você sabe , trabalhei numa escola igualzinha.
    Pode até ser que exista mas não conheço uma escola pública que preste.É sempre muita baixaria, muita fofoca, muita panelinha e puxa-saquismoÉ um ambiente podre.E na época de eleição então?É uma baixaria em escala menor que as eleições públicas.Esse país tem jeito?Sinceramente não acredito.

  9. Flavinha

    Belo (ou horroroso) retrato da educação pública no Brasil você fez. O duro é saber que nas próximas eleições veremos a bandeira do “Em Minas a educação…”
    Querida voltei feliz da vida da minha viagem de sonhos e tô de volta te lendo e amando seus textos.
    Beijos.

  10. Que barra hein amiga? Comparando essa situação com a receita de dez entre dez especialistas em desenvolvimento econômico que dizem que a chave é a educação, já vi que temos ainda um longo caminho a percorrer…Bjs

  11. A questão da educação pública é mesmo vergonhosa, como queremos mudar um pais, se a base não esta solida, se não estão fazendo o essencial. Mas tudo é estratégico, politico sabe direitinho a receita, quanto menos educação, menos questionamento, mais massa de manobra. Agora eu trabalhei em um Núcleo Comunitario para Crianças e Adolescentes e diziamos que havia um sapo enterrado, ficavamos as vezes a tarde brincando e procurando o sapo, era muito urucubaca.

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